Do Haiti ao Rio de Janeiro e vice-versa: a pacificação enquanto pilar da governamentalidade brasileira acerca da paz
DOI:
https://doi.org/10.26792/rbed.v8n2.2021.75254Palavras-chave:
Pacificação, Governamentalidade, UPPs, MINUSTAH.Resumo
Tendo em conta a crescente aparição do termo pacificação no vocabulário político brasileiro e a sua constante associação ao uso de políticas militarizadas para o combate a grupos criminosos e para a retomada das regiões periféricas dominadas por esses grupos, o presente artigo analisa como a ideia de pacificação está no centro das práticas brasileiras de construção da paz - seja em âmbito doméstico ou internacional. Dessa forma, entende-se que a ação militar é um aspecto central da governamentalidade brasileira no que toca a construção da paz, nacional e internacionalmente. Para aprofundar essa temática, o artigo analisa de que maneira a experiência brasileira no comando militar da Missão das Nações Unidas de Estabilização no Haiti (MINUSTAH) está relacionada com as práticas e racionalidades presentes nas Unidades de Polícia Pacificadoras (UPPs) cariocas e vice e versa. Para isso, esse trabalho está dividido em duas seções. A primeira seção se direciona a discutir como a palavra pacificação acaba por formar e informar aspectos importantes da governamentalidade brasileira concernente à paz. A segunda seção, por sua vez, se direciona analisar as conexões existentes entre as práticas pacificadoras empreendidas pelo exército brasileiro no Haiti e a política de pacificação do Rio de Janeiro.
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