O que é "guerra híbrida"? Notas para o estudo de formas complexas de interferência externa
DOI:
https://doi.org/10.26792/rbed.v9n1.2022.75282Palavras-chave:
Guerra híbrida, Interferância externa, Revoluções coloridasResumo
Este artigo apresenta a trajetória do conceito de “guerra híbrida”, explorando suas potencialidades para a análise de formas complexas de interferência externa. Partindo da constatação de que o termo se difundiu de maneira acrítica no debate público desde 2014, busca-se recuperar sua origem e desenvolvimento no interior do pensamento geoestratégico e militar, visando a uma compreensão mais precisa do conceito. Trabalhada aqui como uma estratégia abrangente de atuação no campo externo, fundada na lógica de escalada progressiva do emprego de recursos de poder estatal em cenários de antagonismo, a guerra híbrida emerge como uma opção menos custosa, política e economicamente, para a consecução de objetivos de política externa — sobretudo a desestabilização política e a mudança de regime num país alvo. O cenário de escalada conflitiva próprio da guerra híbrida é aqui exemplificado por dois fenômenos a ela associados: revolução colorida e guerra não convencional. A guerra híbrida teria, pois, duas faces, derivando sua complexidade das formas ambíguas pelas quais se relaciona com os polos político e militar. Conclui-se que essa relação pendular e intersticial própria da guerra híbrida impõe dificuldades às estratégias convencionais de resposta estatal às ameaças securitárias, exigindo uma melhor compreensão do fenômeno e atenção constante aos seus desdobramentos por parte das comunidades de inteligência e de defesa. Por fim, busca-se refletir sobre possíveis contramedidas estatais com potencial de neutralizar ameaças híbridas. Em suas conclusões, o artigo sintetiza como o estudo do caso brasileiro pode ser relevante para essa agenda de pesquisa.
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