A Guerra para Dentro: Pacificação como doutrina e prática das Forças Armadas do Brasil
DOI:
https://doi.org/10.26792/rbed.v8n2.2021.75263Palavras-chave:
pacificação, forças armadas, Brasil, guerra, biopolíticaResumo
O artigo apresenta a noção de dispositivo pacificação como meio para abordar e analisar a constante intervenção das Forças Armadas brasileiras em questões domésticas. A partir da genealogia do poder proposta por Michel Foucault, usada como método, e dos seus conceitos de “disciplina” e “biopolítica”, como referenciais teóricos, propomos uma análise de três conjuntos de práticas aparecidas historicamente em momentos subsequentes e que se compuseram cumulativamente: a política indigenista do Marechal Rondon, a adoção das táticas de contrainsurgência durante o regime autoritário (1964-1985) e as contemporâneas táticas de policiamento de pacificação desenvolvidas no Haiti e no Rio de Janeiro. Argumentamos que a noção de pacificação é um elemento chave que impulsiona, ao longo da história brasileira, a tradição intervencionista das Forças Armadas, que se dá pela contínua combinação entre guerra interna e assistencialismo seletivamente aplicados sobre parcelas específicas da população.
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